Entre a
cidade de Santa Cruz do Capibaribe e a barragem de Poço Fundo o rio é “seco” quase o
ano todo. Sua intermitência decorre das
estiagens anuais, agravada pelo represamento do rio a montante. Assim,
normalmente corre um filete de água de pouco mais de um metro de largura, pelo
leito de areia com 60 a 90 metros de largura. É
resultado da deposição de sedimentos ao longo de séculos, com distribuição
plana e homogênea de areias de diferentes granulometrias na calha do rio,
formando a aluvião, hoje bem menos incrementada ano a ano, em função da
retenção de sedimentos imposta pela barragem de Poço Fundo.
Esta calha do rio Capibaribe representa
a realidade dos rios intermitentes de todo o sertão nordestino, que conservam
suas poucas águas no lençol freático do solo arenoso, permitindo inclusive que
em momentos de severa escassez, os agricultores locais possam acessar esta água
através da escavação de poços rasos, ou cacimbas, no leito do próprio rio. A extração dessa areia descobre a água
guardada em solo saturado inferior, expondo o emergente espelho d´água ao sol,
ao vento e ao ar com baixíssima umidade relativa, acarretando o crescimento de
algas que dificultam o consumo, e uma enorme perda de água por evaporação.
Considerando a estimativa de 2.000 mm
por ano (evaporação potencial) e que a área licenciada seja de 47 hectares
(470.000 m2), teremos uma perda absurda de aproximadamente 940.000 m3 por ano.
Considerando ainda que no semiárido rural o consumo per capita de água não seja
superior a 40 litros por habitante/dia (estimativa de 14,6m3/habitantes/ano),
resulta em teoricamente suprimir a
disponibilidade de água para consumo doméstico de 64.383 pessoas da zona rural
da região, em um ano, considerando que esta fosse a única fonte.
Este
procedimento contraria inteiramente o esforço do Governo Federal e do Estado em
minimizar os efeitos da seca e reorientar as
formas de uso e conservação da água no semiárido através da difusão de práticas
sustentáveis, como a implantação de barragens subterrâneas em leitos aluviais e
da implantação de cisternas, essas acumulando apenas 16 m3 de água!
O Grupo de Trabalho criado e agora
instalado, tem condições de rever tecnicamente os parâmetros para o licenciamento
ambiental de mineração de areia, considerando especificamente esses casos. Esta decisão poderá criar uma nova forma de
analisar os projetos de mineração em leito de rio seco no semiárido,
tornado-se uma diretriz que se alinha à política de gestão de recursos
hídricos.
Neste sentido, o COBH Capibaribe
solicita que tal reflexão seja considerada nas discussões do GT.
Cordialmente,
Presidente
do COBH Capibaribe
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